O mundo e seus desafios

Todos os dias quando passava pela Rua Brasiléia, no Bairro Ouro Preto em Belo Horizonte, chamava minha atenção uma placa na casa número 251, onde abaixo do desenho de uma árvore estilizada se liam as palavras “Fundação Artes e Ofícios”. Desde a primeira vez que a percebi fiquei curioso para saber que tipo de estabelecimento funcionava no local.

Perdido entre as várias voltas que a vida dá, certo dia encontrei no mural de avisos da Moradia Universitária da UFMG um anúncio de estágio na misteriosa instituição. Entrei em contato com a diretora, Sônia, e poucos dias depois estava trabalhando como coordenador da oficina psico-pedagógica de informática da FAO.

Espaço singelo em rua com nome pomposo, abriga uma instituição que pode, ao longo dos anos, tornar-se referência pela habilidade de dar vazão a aptidões artísticas, sociais e humanas que muitos julgariam complicadas, senão impossíveis, de serem alcançadas em grupos semelhantes aos que a FAO atende.

Trabalhar com a diversidade não é empreitada fácil. No discurso político ou acadêmico é tarefa simples afirmar que as pessoas, independente de condições sociais e capacidades intelectuais, possuem o direito ao acesso à educação de qualidade. Sabemos que na prática este discurso é extremamente complexo e envolve uma série de variáveis que muitas vezes impedem sua concretização. O que encontramos com freqüência é a motivação desinteressada de cidadãos comuns em criar espaços nos quais indivíduos que fogem ao estereótipo do “normal” encontrem realidades que lhes permitam crescer como humanos e demonstrarem suas variadas capacidades.

É gratificante ver a dedicação e o esforço destas pessoas que têm nomes como Leonardo, Marco Antonio, Simone, Gabriel, Daniela, Rogério, Rejane, Haroldo, Álvaro, Luis, Marcelo, entre tantos outros. A lição que ensinam enquanto fazem papel artesanal, encadernações artísticas, flores e tapetes, é que não há dificuldade que não seja, ao menos de alguma forma, transposta. Provam-nos diariamente que desafios são situações que devem ser encaradas sem receio, mas com uma boa dose de paciência e planejamento.

Profissionais, alunos, professores e coordenadores da Fundação Artes e Ofícios modificam o mundo que os cercam e nesta interação também são modificados. Sempre com a certeza de que o mundo não pode ser perfeito, mas que pode ser a casa de todas as diversidades.

Douglas Lima